Escrevo-te hoje como se fosse a última vez que faço. Como se depois de hoje, de agora, não mais tivesse oportunidade de me dirigir a ti. Como se morresse.
Porque só no fim da linha somos capazes de dizer tudo aquilo que queremos, sempre quisemos, apenas isso quisemos, dizer.
Tudo o que te disse estes anos todos foram balelas, cantigas de bandido, foi a dança para a música que me deste. Tudo o que te disse não valeu nada. Nem sequer me recordo do que te disse até hoje. O importante foi o que nunca te disse.
E é nos últimos momentos que pensamos no que foi realmente importante. Pensamos no como podíamos ter vivido melhor. Ah como eu podia ter-te agarrado pela mão uma série de vezes, ter-te puxado para mim e roubado um beijo. Mas o medo, ai o medo! O medo do ridículo principalmente. Da tua reacção, da minha frustração. Então, não fiz. Mas hoje faria! Sim, hoje! Porque hoje é o último dia, assim acreditemos.
Escrevo-te hoje para me despedir de ti. Partirei para lugar incerto e quero apagar-te de mim como uma tatuagem permanente que nunca vai sair.
Porque tu és uma amarra! És uma ancora que nunca quiseste ser e assim, repara, não consigo soltar-me e seguir nem tu te livras desta sarna!
Há relações que nascem para não o ser. Não me peças, eu próprio já o fiz, para me resignar a uma amizade, bonita e saudável bla bla bla. Por mais que te entenda, não consigo gostar tão pouco de ti para te querer apenas como amiga, nem gostar tanto para te conseguir fazer a vontade.
Dizem, não interessa como tudo começa mas sim como tudo acaba. Mas quando acaba sem ter começado? Interessará porventura saber porque não começou. Ou talvez nem isso interesse. Não sou apologista da ciência ao serviço do coração. Pouco importa perceber razões, justificações, intenções ou motivações. As coisas acontecem porque têm de acontecer e da mesma forma assim é quando não acontecem.
Dizem, não interessa como tudo começa mas sim como tudo acaba. Mas quando acaba sem ter começado? Interessará porventura saber porque não começou. Ou talvez nem isso interesse. Não sou apologista da ciência ao serviço do coração. Pouco importa perceber razões, justificações, intenções ou motivações. As coisas acontecem porque têm de acontecer e da mesma forma assim é quando não acontecem.
Escrevo a carta a ti, que já foste muitas. Já tiveste muitos rostos, muitos olhares, muitos defeitos e maiores qualidades. Escrevo-te universalmente, porque o detalhe é irrelevante quando o denominador comum se mantém o mesmo.
Não te quero piedade, pena, misericórdia. Não quero que me fales de arco-iris, de mil sóis e luas maravilhosas. Cresci.
Cresci. Já vivi. Não sou mais menino. Não te consigo amar novamente, cegamente, piamente, deixar-te o meu coração numa esplanada em sol de agosto e ve-lo secar, definhar e, até ao ultimo instante, acreditando sempre não no que estou a ver, mas naquilo que quero ver.
Tornei-me exigente, negro, desconfiado. Relativizei, ou tentei, tudo o que parece bom, tudo o que parece ser uma janela, uma lufada de ar fresco. Não quero asas se não vou voar. Não quero lenha para me queimar.
Parto hoje. Porque quando não se parte, vemos os outros partir. Somos nós partidos.
Deixo-te as saudades que te merecer. A dor levo-la eu.
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