terça-feira, 11 de setembro de 2012

Setembro


Setembro trouxe-me de volta. Do mundo que me deste. Do sonho descontinuado, inconstante e fragil, mas ainda assim, sonho, que me proporcionaste.
Setembro traz-me o fim do verão. Mas não me traz o outono. Setembro traz-me suspensão. De quem espera por uma nova estação. Não porque a deseje, porque possa ou venha a ser melhor. Mas porque a anterior acabou, abruptamente.

Setembro é o mês dos regressos. Á escola, aos empregos. Á mundana vida feita de quotidianos episodios que pouco ou nada de novo nos dão. Trabalhar para comer. Comer para viver. Viver para?

Setembro traz-nos o fim do ano, é já ali. Já se alimentam os planos que faremos. Porque este já não interessa. Porque a crise se agudiza todos os santos dias. Porque a praia já acabou. Porque a dieta já não faz sentido agora. Porque os amores já se viveram.

Setembro traz-me a escrita. Dá-me a criatividade, a originalidade. Setembro traz-me a mim mesmo. Dá a minha companhia. A minha solidão, o meu mais que justificado e maldita pessimismo que, teimosamente, me dá razão.

Setembro dá-me a segurança. A certeza do que conto. Do que toco, do que sinto, do que tenho palpavel. Setembro traz-me a realidade. Setembro mata-me os sonhos, os desejos, as tesões e os planos. Setembro traz-me o mundo que por momentos mudaste.

Porque tu saíste.

Ficaste em Agosto, que já não mora. Entraste, mudaste, melhoraste, viveste, o meu mundo. Com a mesma determinação e surpresa com que o fizeste, assim te foste.

Setembro não me trará os teus beijos timidos. Não me trará o teu sorriso lindo, e muito menos o toque das minhas mãos no teu rosto. Setembro não me dará a tua mão quando for na rua e passar num museu, num jardim.

... se dói...

Setembro traz-me o meu companheiro negro. Aquele que mandei de férias para te dar quarto no meu coração. Aquele que me acompanha e me é fiel e honesto.

Setembro traz-me o mesmo mundo, escuro, cinzento, mudo, feio e sombrio que tive antes de ti. Mas traz-me de volta à vida que sei viver, que não me magoa, cujos filmes deixo apenas e só na sala de cinema.

Setembro traz-me a dor que me afaga o rosto como uma mãe. Abraça-me na sua escuridão e pergunta-me onde andei, quem me fez mal. Promete-me não me deixar mais a porta aberta.

Sim, tranca-me na cave imunda, dos pensamentos mais tristes e sombrios, nas conversas de mim para mim, no eterno descobrimento da coisa que sou eu.

Livra-me de amar novamente como o fiz, que me doeu tanto.



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