sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Terapia

 

Passei por tua casa esta noite.

Não sei porque o fiz. Precisei de o fazer. Talvez para sentir as borbuletas na barriga quando ia ter contigo, quando te ia buscar para passearmos. Talvez para me recordar do teu beijo à entrada, a tua mão no meu cabelo, "estás bonito hoje". 

Passei por tua casa mas não parei. Tive vergonha de passar por lá. Como se fosse um stalker, como se estivesse a invadir o teu espaço. Como se estivesse a cometer um crime.

Percebi que não sei lidar com isto. Não te quero, nem consigo ter, como amiga. Dóis-me! Frustraste-me.

Tanta vez que disseste para eu parar e pensar no que realmente queria, para eu ter certezas do que estava a fazer e a decidir. E no fim... as duvidas sempre foram tuas. Tiveste a impulsividade de dizer que me amavas e arrependeste-te.

Fizeste de mim um Frankenstein. Trouxeste-me de novo à vida para pouco depois me tirares o que me deste. Se tens culpa, não sei. Mas merda, se dói!...

Não consigo estar contigo. Não tenho tema de conversa, não sei se aguentaria estar tão perto e tão longe. E sentir a tua frieza de quem está resolvida com o nosso passado. Desculpa se sinto mais do que tu. Não faz de mim mais imaturo, faz de mim mais apaixonado. Mais do que tu estiveste por mim.

Estou tão mal resolvido.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Setembro


Setembro trouxe-me de volta. Do mundo que me deste. Do sonho descontinuado, inconstante e fragil, mas ainda assim, sonho, que me proporcionaste.
Setembro traz-me o fim do verão. Mas não me traz o outono. Setembro traz-me suspensão. De quem espera por uma nova estação. Não porque a deseje, porque possa ou venha a ser melhor. Mas porque a anterior acabou, abruptamente.

Setembro é o mês dos regressos. Á escola, aos empregos. Á mundana vida feita de quotidianos episodios que pouco ou nada de novo nos dão. Trabalhar para comer. Comer para viver. Viver para?

Setembro traz-nos o fim do ano, é já ali. Já se alimentam os planos que faremos. Porque este já não interessa. Porque a crise se agudiza todos os santos dias. Porque a praia já acabou. Porque a dieta já não faz sentido agora. Porque os amores já se viveram.

Setembro traz-me a escrita. Dá-me a criatividade, a originalidade. Setembro traz-me a mim mesmo. Dá a minha companhia. A minha solidão, o meu mais que justificado e maldita pessimismo que, teimosamente, me dá razão.

Setembro dá-me a segurança. A certeza do que conto. Do que toco, do que sinto, do que tenho palpavel. Setembro traz-me a realidade. Setembro mata-me os sonhos, os desejos, as tesões e os planos. Setembro traz-me o mundo que por momentos mudaste.

Porque tu saíste.

Ficaste em Agosto, que já não mora. Entraste, mudaste, melhoraste, viveste, o meu mundo. Com a mesma determinação e surpresa com que o fizeste, assim te foste.

Setembro não me trará os teus beijos timidos. Não me trará o teu sorriso lindo, e muito menos o toque das minhas mãos no teu rosto. Setembro não me dará a tua mão quando for na rua e passar num museu, num jardim.

... se dói...

Setembro traz-me o meu companheiro negro. Aquele que mandei de férias para te dar quarto no meu coração. Aquele que me acompanha e me é fiel e honesto.

Setembro traz-me o mesmo mundo, escuro, cinzento, mudo, feio e sombrio que tive antes de ti. Mas traz-me de volta à vida que sei viver, que não me magoa, cujos filmes deixo apenas e só na sala de cinema.

Setembro traz-me a dor que me afaga o rosto como uma mãe. Abraça-me na sua escuridão e pergunta-me onde andei, quem me fez mal. Promete-me não me deixar mais a porta aberta.

Sim, tranca-me na cave imunda, dos pensamentos mais tristes e sombrios, nas conversas de mim para mim, no eterno descobrimento da coisa que sou eu.

Livra-me de amar novamente como o fiz, que me doeu tanto.



From times to times...

One gets tired of everything.


quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Atravessado


Não sei desenhar. Vou descobrindo que não sei falar, também. Sei, creio, escrever.
Assim, não há nada mais devastador, irritante, do que não conseguir escrever.

Na falta de melhor, há música.




...


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Love you F.


Porque quem ama, ama. Com ou sem retorno. 

Boa noite princesa.


O futuro

O futuro não é mais do que um passado anunciado.

Podemos não adivinhar como ou quando as coisas vão acontecer, mas sabemos que elas acontecem.

Sabemos que ciclicamente existirá uma turbulência e uma bonança.

No fim, quando estamos calejados, sabemos que dói. Não porque o sintamos. Mas porque temos uma memória bem presente de todo um passado, mais sofrido, que amado.

I've been loving you too long.



quarta-feira, 30 de maio de 2012

Carta

Carta by Toranja on Grooveshark


Escrevo-te hoje como se fosse a última vez que faço. Como se depois de hoje, de agora, não mais tivesse oportunidade de me dirigir a ti. Como se morresse.
Porque só no fim da linha somos capazes de dizer tudo aquilo que queremos, sempre quisemos, apenas isso quisemos, dizer.

Tudo o que te disse estes anos todos foram balelas, cantigas de bandido, foi a dança para a música que me deste. Tudo o que te disse não valeu nada. Nem sequer me recordo do que te disse até hoje. O importante foi o que nunca te disse.

E é nos últimos momentos que pensamos no que foi realmente importante. Pensamos no como podíamos ter vivido melhor. Ah como eu podia ter-te agarrado pela mão uma série de vezes, ter-te puxado para mim e roubado um beijo. Mas o medo, ai o medo! O medo do ridículo principalmente. Da tua reacção, da minha frustração. Então, não fiz. Mas hoje faria! Sim, hoje! Porque hoje é o último dia, assim acreditemos.

Escrevo-te hoje para me despedir de ti. Partirei para lugar incerto e quero apagar-te de mim como uma tatuagem permanente que nunca vai sair.

Porque tu és uma amarra! És uma ancora que nunca quiseste ser e assim, repara, não consigo soltar-me e seguir nem tu te livras desta sarna!

Há relações que nascem para não o ser. Não me peças, eu próprio já o fiz, para me resignar a uma amizade, bonita e saudável bla bla bla. Por mais que te entenda, não consigo gostar tão pouco de ti para te querer apenas como amiga, nem gostar tanto para te conseguir fazer a vontade.


Dizem, não interessa como tudo começa mas sim como tudo acaba. Mas quando acaba sem ter começado? Interessará porventura saber porque não começou. Ou talvez nem isso interesse. Não sou apologista da ciência ao serviço do coração. Pouco importa perceber razões, justificações, intenções ou motivações. As coisas acontecem porque têm de acontecer e da mesma forma assim é quando não acontecem.

Escrevo a carta a ti, que já foste muitas. Já tiveste muitos rostos, muitos olhares, muitos defeitos e maiores qualidades. Escrevo-te universalmente, porque o detalhe é irrelevante quando o denominador comum se mantém o mesmo.

Não te quero piedade, pena, misericórdia. Não quero que me fales de arco-iris, de mil sóis e luas maravilhosas. Cresci.

Cresci. Já vivi. Não sou mais menino. Não te consigo amar novamente, cegamente, piamente, deixar-te o meu coração numa esplanada em sol de agosto e ve-lo secar, definhar e, até ao ultimo instante, acreditando sempre não no que estou a ver, mas naquilo que quero ver.

Tornei-me exigente, negro, desconfiado. Relativizei, ou tentei, tudo o que parece bom, tudo o que parece ser uma janela, uma lufada de ar fresco. Não quero asas se não vou voar. Não quero lenha para me queimar.

Parto hoje. Porque quando não se parte, vemos os outros partir. Somos nós partidos.
Deixo-te as saudades que te merecer. A dor levo-la eu.




At least I think I do...